Aos poucos vão indo embora
As coisas que eu mais gostava…
Quando morreu meu cavalo
Por certo Deus descansava.Era uma tarde de outubro
Com silêncio de sol-por
Um vento nas madressilvas
Ventava anúncios de dor.No céu azul do potreiro
A corvada, em vôos rasos,
Trazia garras de morte
Mas a gente nem fez caso.Quando a manhã veio cedo
Na recolhida pra encilha
Faltava um baio cebruno
Na forma da minha tropilha.Um peão de olhos baixos
De freio e mango na mão
Me disse com dor na alma:
– Morreu seu baio, patrão!As crinas entre as macegas
Cardavam teias de aranha
Que a manhã, ainda agora,
Tinha posto na campanhaE os olhos do meu cavalo
Que há pouco não viam nada…
Já tinham ganhado o céu
Pelas garras da corvada!Ficou um silêncio largo
Talvez faltando um relincho…
Só um choro pelo arame
Pelo cantar dos pelinchos.Olhando o baio estendido
Pensei, bem quieto, comigo…
Isso não é coisa, parceiro
Que se faça com um amigo!Coisa triste de se ver
Um amigo desse jeito…
Ontem mesmo lhe apertei
A cincha no osso do peito!E hoje lhe vejo assim
Posto em partida, sem viço…
Se Deus bem sabe o que faz
Não tava sabendo disso!Se vai embora o meu baio
O pingo que eu mais gostava
Quando morreu meu cavalo
Por certo deus descansava!
Composição: Cristian Camargo / Gujo Teixeira.
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