Quando o apito da fábrica de tecidos
Vem ferir os meus ouvidos
Eu me lembro de vocêMas você anda
Sem dúvida bem zangada
E está interessada
Em fingir que não me vêVocê que atende ao apito de uma chaminé de barro
Por que não atende ao grito
Tão aflito
Da buzina do meu carroVocê no inverno
Sem meias vai pro trabalho
Não faz fé com agasalho
Nem no frio você crêMas você é mesmo artigo que não se imita
Quando a fábrica apita
Faz reclame de vocêNos meus olhos você lê
Que eu sofro cruelmente
Com ciúmes do gerente
Impertinente
Que dá ordens a vocêSou do sereno, poeta muito soturno
Vou virar guarda-noturno
E você sabe por quêMas você não sabe
Que enquanto você faz pano
Faço junto do piano
Estes versos pra você
Composição: Noel Rosa.
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